O colar, crachá, brincos ou uniforme que você escolheu vestir esta manhã pode dizer mais do que você imagina sobre seu status social, trabalho ou algum outro aspecto de sua identidade.
Os antropólogos dizem que os humanos têm feito isso – encontrar maneiras de se comunicarem sobre si mesmos sem o barulho da conversa – por milênios.
Crédito: Abdeljalil Bouzouggar
Mas contas de concha recuperadas de uma caverna no oeste do Marrocos, com idade entre 142.000 e 150.000 anos, sugerem que esse comportamento pode ser muito mais antigo do que se pensava. A descoberta, detalhada na quarta-feira na revista Science Advances, foi feita por uma equipe de arqueólogos que inclui Steven L. Kuhn, professor de antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e Comportamentais da Universidade do Arizona.
As contas, Kuhn e seus colegas dizem, são as primeiras evidências conhecidas de uma forma generalizada de comunicação humana não verbal e lançam uma nova luz sobre como as habilidades cognitivas e interações sociais dos humanos evoluíram.
“Eles provavelmente fizeram parte da maneira como as pessoas expressavam sua identidade com suas roupas”, disse Kuhn. “Eles são a ponta do iceberg para esse tipo de característica humana. Eles mostram que ele estava presente até centenas de milhares de anos atrás, e que os humanos estavam interessados em se comunicar com grupos maiores de pessoas do que seus amigos e familiares imediatos.”
Como essa antiga forma de comunicação aparece hoje? Isso acontece com frequência, disse Kuhn.
“Você pensa em como a sociedade funciona – alguém está te perseguindo no trânsito, buzinando e piscando as luzes, e você pensa: ‘Qual é o seu problema?'”, Disse Kuhn. “Mas se você vir que eles estão usando um uniforme azul e um boné pontudo, você percebe que é um policial que está puxando você.”
Kuhn e uma equipe internacional de arqueólogos recuperaram as 33 contas entre 2014 e 2018 perto da foz da Caverna Bizmoune, cerca de 16 quilômetros para o interior de Essaouira, uma cidade na costa atlântica do Marrocos.
Kuhn co-dirige a pesquisa arqueológica na Caverna de Bizmoune com Abdeljalil Bouzouggar, professor do Instituto Nacional de Ciências Arqueológicas e Patrimônio de Rabat, Marrocos, e Phillipe Fernandez, da Universidade Aix-Marseille, na França, que também são os autores do estudo. El Mehdi Sehasseh, um estudante graduado do Instituto Nacional de Ciências Arqueológicas e Patrimônio, que fez o estudo detalhado das contas, é o autor principal do estudo.
As contas descobertas por Kuhn e seus colaboradores foram feitas de conchas de caramujos do mar, e cada uma mede cerca de meia polegada de comprimento. Buracos no centro das contas, bem como outras marcas de uso e desgaste, indicam que elas foram penduradas em cordas ou em roupas, disse Kuhn.
As contas são como muitas outras encontradas em locais em todo o norte e sul da África, mas os exemplos anteriores datam de não mais de 130.000 anos. Contas antigas do norte da África estão associadas ao Aterian, uma cultura da Idade da Pedra conhecida por suas pontas de lança de caule distintas, cujo povo caçava gazelas, gnus, javalis e rinocerontes, entre outros animais.
As contas servem como pistas potenciais para antropólogos que estudam a evolução da cognição e comunicação humanas. Os pesquisadores há muito se interessam em saber quando a linguagem apareceu. Mas não havia nenhum registro material da linguagem até alguns milhares de anos atrás, quando os humanos começaram a escrever as coisas.
As contas, disse Kuhn, são essencialmente uma forma fossilizada de comunicação básica.
Uma equipe internacional de arqueólogos recuperou as 33 contas, entre 2014 e 2018, de uma caverna no oeste do Marrocos. Cortesia de Steven L. Kuhn
“Não sabemos o que significam, mas são claramente objetos simbólicos que foram posicionados de forma que outras pessoas pudessem vê-los”, disse ele.
As contas também são notáveis por sua forma duradoura. Em vez de pintar seus corpos ou rostos com ocre ou carvão, como muitas pessoas faziam, os fabricantes de contas criaram algo mais permanente, disse Kuhn, sugerindo que a mensagem que pretendiam transmitir era duradoura e importante.
De muitas maneiras, as contas levantam mais perguntas do que respondem. Kuhn disse que ele e seus colegas agora estão interessados em saber por que o povo Ateriano sentiu a necessidade de fazer as contas quando o fizeram. Eles estão explorando várias explicações possíveis. Um, disse Kuhn, envolve uma população crescente; à medida que mais pessoas começaram a ocupar o Norte da África, elas podem ter precisado de meios para se identificar.
Também é possível que as pessoas no Norte da África tenham começado a usar o método de comunicação em uma época em que o clima era frio e seco. Eles podem ter desenvolvido clãs ou outras lealdades para proteger recursos limitados, então talvez tenham usado as contas para expressar sua etnia ou outra identidade para mostrar que pertenciam a uma determinada área, disse Kuhn.
“Uma coisa é saber que as pessoas eram capazes de fabricá-los”, disse Kuhn, “mas então a questão é: ‘OK, o que os estimulou a fazer isso?'”
Fonte : ancientpages
Tradução : Fatos Curiosos
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