Arqueólogos que escavaram na cidade de Berenice Troglodítica, um antigo porto marítimo do Egito na costa ocidental do Mar Vermelho, encontraram um túmulo monumental de 1.500 anos que contém esqueletos incomumente organizados. O túmulo está também cheio de muitos artefatos belíssimos.
Após a abertura do túmulo, os investigadores relatam ter visto esqueletos que pareciam ter sido enterrados em uma posição amontoada. Nesse sentido, os ossos dos membros inferiores estavam repousando sobre o peito.
“Esta não é uma posição natural. Dessa forma, para o conseguir, o falecido tinha de ser amarrado com cordas ou amarrado com pano”, disse o líder de investigação Dr. Mariusz Gwiazda do Centro de Arqueologia Mediterrânica da Universidade de Varsóvia à Ciência na Polônia.
“A corda ficava à volta do pescoço e das pernas, o que fazia então com que o corpo assumisse uma posição agachada. Este tipo de costume funerário foi descrito no século II a.C. por Agatharchides ou Agatharchus de Cnidus. O historiador e geógrafo grego disse que as tribos do Deserto Oriental o praticavam. Talvez tenha sido semelhante neste caso”, disse o Dr. Gwiazda.
Vários dos mortos estavam em quatro camadas, uma debaixo da outra. No entanto, até agora, os arqueólogos não conseguiram determinar se os corpos foram depositados de uma só vez ou acrescentados ao túmulo de tempos a tempos.
O arqueólogo sublinha que o túmulo estava cheio de vários tipos de equipamento, o que prova que pertencia então a representantes muito importantes desta antiga cidade. Os falecidos foram enterrados com contas feitas de ônix (um mineral silicato calcedônico) e cornalina (um mineral vermelho acastanhado) que vieram do Paquistão, Índia, e mesmo da Indonésia.
Para a última viagem dos mortos, foram também colocados no túmulo vários anéis de prata, brincos e braceletes feitos de marfim.
Costumes de Berenice Troglodítica
O Dr. Gwiazda observou que existem acessórios de túmulo muito semelhantes do Alto Egito e Núbia, do mesmo período.
Nessa época (do século IV ao VI d.C.), Berenice Troglodítica era habitada pelos Blemianos que se tornaram, portanto, independentes do poder de outros impérios mediterrânicos. Era uma tribo núbia pouco conhecida, que habitava o montanhoso Deserto Oriental. No entanto, controlava território a leste do Nilo desde a atual Etiópia até Berenice, na época em questão. As autoridades administraram a cidade e enriqueceram-se graças à participação no comércio entre os bizantinos e as comunidades que viviam na região do Oceano Índico.
“Os costumes do enterro da comunidade de Berenice Troglodítica têm estado até agora envoltos em mistério. Queríamos preencher esta lacuna”, acrescentou o Dr. Gwiazda. Os investigadores tiveram boa sorte com esta descoberta, porque o túmulo acabou por não ser descoberto. O que é raro no Egito, especialmente no caso de enterros de elite.
Como parte da parte acima do solo do túmulo, junto à arca com restos humanos, os arqueólogos descobriram vestígios de antigos rituais fúnebres.
Os cientistas relatam provas de antigos rituais fúnebres de uma plataforma e restos de animais provavelmente utilizados para sacrifícios. Foram também encontradas várias ânforas de cabeça para baixo. De acordo com os investigadores, isto significa que as esvaziavam durante as práticas rituais. Havia também pequenas garrafas de armazenamento de água, de forma semelhante à que os árabes ainda hoje utilizam. São famosas porque os fluidos nelas contidos mantêm a temperatura baixa, apesar do calor.
No entanto, dentro do túmulo, os arqueólogos encontraram mais uma surpresa. Encontraram a sepultura de uma mãe e de uma criança do mesmo período. Parece, assim, que os mortos se enroscaram um no outro, descreveu o Dr. Gwiazda.
Descobertas na área
Isto provavelmente não é o fim de descobertas emocionantes nesta área, porque o túmulo explorado na época passada é contíguo em dois lados por estruturas que são muito semelhantes em plano.
“As nossas últimas descobertas mostram que nos séculos 4 e 6, Berenice não era de todo uma cidade portuária provincial. Era uma cidade com contatos de longa distância,” – disse o Dr. Gwiazda.
Durante muitos anos, os arqueólogos que trabalham em Berenice estudaram principalmente relíquias helenísticas e romanas encontradas no local. Até à data, não foi feita nenhuma investigação extensiva sobre cemitérios humanos destes períodos. Há alguns anos, os cientistas conseguiram localizar um cemitério de animais com 2.000 anos em Berenice. Estudos dos restos revelaram que os então habitantes da cidade trouxeram macacos da Índia, que trataram como mascotes domésticos, e, após a sua morte, enterraram-nos na periferia das cidades. Foram também encontrados cemitérios de cães e gatos na cidade.
A cidade de Berenice Troglodítica foi fundada no século III a.C. pelo faraó Ptolomeu II. No primeiro século a.D., os romanos que tomaram o poder sobre o Egito tornaram então a cidade um importante centro de comércio transoceânico ligando a África Negra, o Médio Oriente e a Índia. Dessa forma, inicialmente, utilizava-se o porto para a expedição de elefantes africanos.
Fonte : ancientpages
Tradução : Fatos Curiosos
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