
No século III dC, uma tribo germânica começou a se posicionar como uma força notável a oeste do Mar Negro: os visigodos. Herwig Wolfram nos apresenta um interessante ponto: o termo “Visigodo” foi moldado por Cassiodoro, um escritor romano, para se referir a esses “godos ocidentais”, enquanto “Ostrogothi” seria para os “godos orientais”. Na verdade, essa nomenclatura foi mais uma necessidade romana para distinguir as duas facções dos godos do que uma auto-identificação dos povos em questão. Curiosamente, ao longo do tempo, os visigodos adotaram esse nome para si mesmos.
Historicamente, os visigodos têm raízes que os ligam a regiões como a atual Alemanha e Hungria. No entanto, foram os hunos que os deslocaram de suas terras originais. Os desdobramentos deste deslocamento foram significativos. Os visigodos, sob a liderança de Fritigerno, foram acolhidos em terras romanas pelo imperador Valente. Contudo, conflitos e tensões surgiram e culminaram na Primeira Guerra Gótica e na emblemática Batalha de Adrianópolis em 378 dC, onde os visigodos triunfaram sobre Roma.
A intrigante origem dos godos, da qual os visigodos fazem parte, é tema de debate acadêmico. Algumas teorias sugerem que eles vieram da região ao redor da atual Gdansk, na Polônia. Outros, como Walter Goffart, argumentam que qualquer tentativa de traçar uma “história dos godos” antes de sua menção em registros romanos é fútil, dada a falta de documentação. E ainda, para outros como Peter Heather, evidências arqueológicas, como as tumbas góticas na Pomerânia Oriental, indicam a Polônia como possível berço da cultura gótica.
Importante notar é a ideia de que os visigodos não eram uma etnia homogênea, mas uma confederação de várias tribos germânicas. De fato, a definição de “gótico” é fluida, abrangendo várias culturas e práticas. A interação dos visigodos com o Império Romano, suas dinâmicas internas e sua relação com outros povos germânicos tornam sua história uma tapeçaria complexa de alianças, traições e transformações culturais.
Sua relação com Roma foi, sem dúvida, um ponto crucial. Mencionados inicialmente por escritores romanos como Plínio, o Velho e Tácito, os godos oscilavam entre serem aliados e inimigos de Roma. Os líderes visigodos, como Atanarico e Fritigerno, apresentaram posturas contrastantes em relação à influência romana, principalmente sobre questões religiosas. Atanarico resistiu à romanização e ao cristianismo, enquanto Fritigerno, talvez influenciado por sua fé cristã, buscava uma relação mais amigável com Roma.
A chegada dos hunos na cena mudou o equilíbrio de poder e influenciou diretamente a relação dos visigodos com Roma. Os hunos, com suas táticas de ataque, empurraram os visigodos para os braços de Roma. As repercussões desta aliança foram sentidas com a rebelião dos visigodos e o subsequente confronto com o imperador Valente, culminando no catastrófico confronto em Adrianópolis.
Em resumo, a história dos visigodos é um testemunho da constante evolução das identidades culturais e das complexidades da política no mundo antigo.
Fontes: Herwig Wolfram, Walter Goffart, Peter Heather, Cassiodoro, Amiano Marcelino, Jordanes, Plínio, o Velho, e Tácito.
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